Entrevista com o Diretor Geral da Fundação Japão Yoo Fukazawa
Entrevistador: No cotidiano, a maioria das pessoas não tem contato com sua entidade, antes de tudo, explique-nos que atividades realiza a Fundação Japão?
Fukazawa: A Fundação Japão, através do intercâmbio cultural, tem como objetivo construir um entendimento mútuo entre o Japão e outros países. Nesse trabalho têm-se três pilares:
1º O intercâmbio cultural e artístico (apresentar a cultura japonesa no estrangeiro e ao mesmo tempo, introduzir culturas estrangeiras no Japão).
2º Apoio à educação japonesa no exterior (auxílio ao estrangeiro que deseja estudar japonês)
3º Apoio ao intercâmbio intelectual e estudos japoneses no exterior (promovido em países estrangeiros e ao mesmo tempo, de forma ativa, o diálogo intelectual internacional).
Entrevistador: Este ano é o 120º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre Brasil e Japão, há eventos planejados?
Fukazawa: Por ser o ano do aniversário, serão convidados artistas japoneses ao Brasil e assim, realizarão apresentações junto com brasileiros. E para homenagear este ano comemorativo estão programadas outras atividades.
Entrevistador: Que impressão tem com relação aos encantos da cultura brasileira?
Fukazawa: É constrangedor, mas não posso realmente falar por não ter ainda experiência suficiente da cultura brasileira. O Brasil é um país de convivência e miscigenação cultural, acho que é um lugar maravilhoso onde nasce uma nova cultura, uma mistura de várias culturas.
Entrevistador: Onde tem percebido isso, por exemplo?
Fukazawa: Acho que o samba e a bossa nova, também, nasceram do encontro e influência da música africana e do jazz. Se comparar com o jazz clássico, são músicas muito agradáveis. E creio que isto provém do carácter amável do brasileiro. Além disso, por ser grande a presença dos nikkeis no Brasil, há a expectativa do nascimento de uma nova cultura na fusão das culturas japonesa e brasileira.
Entrevistador: Há alguma diferença cultural ou de estilo de vida que tenha percebido?
Fukazawa: Percebi ao chegar no Brasil, que o brasileiro é mais entusiasta, é uma etnia empolgante. Acho que isso se deve à forte imagem que se tem do samba. Mas, na verdade, acho que são pessoas tranquilas, simpáticas e simples. Mesmo sendo ocidentais, parecem não expressar com convicção os seus direitos. Não seria isto proveniente da miscigenação cultural, uma mistura de diversas culturas?
Entrevistador: Como é recebida no Brasil a cultura japonesa?
Fukazawa: O que primeiro me surpreendeu ao chegar ao Brasil foi o fato da cultura japonesa ser amplamente divulgada aos brasileiros. Isso se deve aos esforços dos nipo-brasileiros. Os nikkeis sempre estão apresentando voluntariamente a cultura japonesa em todo o Brasil. Geralmente, o trabalho da Fundação Japão é introduzir a cultura japonesa no exterior, e na maior parte do Brasil isso foi e está sendo realizado. Por não ter recursos, pode-se pensar que está satisfatória a divulgação.
Mas o trabalho da Fundação Japão é de apresentar cada vez mais a cultura tradicional japonesa.
Além disso, penso que se deve expor não só o aspecto externo, o formato da cultura japonesa, mas também o aspecto interno, o espírito da cultura japonesa, o espírito do japonês.
Outra coisa que acho interessante é que no Brasil a cultura japonesa e seus valores estão auxiliando na educação dos brasileiros. Talvez no Brasil, a dedicação, a disciplina, a honestidade do japonês são muito bem apreciadas como aspectos meritórios da cultura japonesa. Por exemplo, o judô está sendo aceito não só como um simples esporte; acredito que o judô é muito bem avaliado pela filosofia educacional ética que transmite. Nesse sentido também se encontra a Cerimônia do Chá, se se compreender o aspecto espiritual e não só as formalidades, será ainda melhor avaliada no Brasil, e sua difusão crescerá.
Entrevistador: O Sr. Fukazawa tem exercido as suas funções em vários países, quais são suas impressões sobre a cultura japonesa vista do exterior?
Fukazawa: Gostaria de chamar a atenção de que a cultura japonesa, comparada com a cultura ocidental, é bastante diferente. Penso que se deve ter orgulho, perante o mundo, pelo fato da cultura japonesa ser especial.
Por exemplo, o jardim japonês. O jardim ocidental é cheio de flores coloridas. Mas o jardim japonês não tem nenhuma flor, como uma paisagem seca – karesansui, normalmente de pedras e árvores, é um jardim sem cores.
Outro exemplo é o doce tradicional japonês (wagashi). Sua característica peculiar é demonstrar e transmitir às pessoas as mudanças das estações.
Mais um exemplo está no esporte. No ocidente, ganhar é tudo, o esporte está centralizado na competência, mas no esporte japonês, está na disciplina mental representada pelas artes marciais.
Entrevistador: Qual é sua própria relação com os encantos do Caminho da Cerimônia do Chá (chadô)?
Fukazawa: O Chadô é uma maneira de recepcionar as pessoas e acho que um dos encantos do Chadô está em não enaltecer a ostentação e opulência. O que se deseja alcançar é o [espírito de] wabi e sabi. O wabi-sabi é sentir-se só/ solitário, é o fato de estar envelhecendo. É dizer que o sóbrio é simples. Só a cultura japonesa encontra no rústico o senso do belo. Portanto, o Chadô é a essência da cultura japonesa, e sem dúvida posso dizer que é o ponto central desta.
Entrevistador: Tem razão…
Fukazawa: Ainda mais, acredito que o objetivo do Chadô é a procura da absoluta paz mental. Durante a execução de movimentos complexos a mente deve alcançar um estado de desapego dos conflitos cognitivos. Isso é algo maravilhoso.
Entrevistador: Bem, eu acho que nós também temos que estudar mais nas sessões de prática (okeiko).
Mas, para o senhor, o que representa a frase “Ichigo ichie – Um momento, um encontro”. Tem algo que lhe faz lembrar esse momento único e inesquecível?
Fukazawa: Enfim, penso que o significado de “Ichigo ichie – Um momento, um encontro” é o modo que devemos nos relacionar com as pessoas, tanto como se não fossemos encontrá-las novamente no futuro; quanto com as que nos deparamos muitas vezes todos os dias, como se nunca tivéssemos nos encontrado no passado. Ou seja, quem, quando, onde, mesmo que muitas vezes, o fato é que se deve valorizar cada um desses encontros; por isso, para mim, não existe o que é chamado de “pessoa especial”. Portanto, com todas as pessoas que se encontre se deve ter a mesma consideração, tratá-las por igual.
Entrevistador: E por último, poder-nos-ia ensinar qual é o seu lema favorito?
Fukazawa: “Procurai e achareis”. Eu acredito que se procurar com afinco, seja o que for, irá tornar-se realidade, sempre.
Entrevistador: Muito obrigado por nos conceder uma parte do seu tão precioso tempo.
Maio de 2015