Entrevista com o cônsul-geral do Japão em Curitiba Toshio Ikeda
Entrevistador: Poderia nos descrever seu trabalho e o cargo que exerce?
Ikeda: Desde abril de 2014, exerço a chefia do Consulado Geral do Japão em Curitiba.
O Consulado Geral do Japão em Curitiba tem sob sua jurisdição os três estados da região sul do Brasil. E tem como atividades prestar assistência aos japoneses na área de sua jurisdição, serviços consulares como emissão de visto, passaporte, etc., apoio às empresas japonesas, promover a difusão da cultura japonesa e o fomento das relações bilaterais Japão-Brasil, entre outras. Neste ano, o Consulado desenvolve, nos três estados sob sua jurisdição, atividades comemorativas aos 120 anos do Estabelecimento das Relações Diplomáticas Japão-Brasil, como também os 100 anos da Colonização no Estado do Paraná e os 45 anos da Coirmandade entre a Província de Hyogo e o Estado do Paraná.
Entrevistador: Que impressão tem com relação ao fascínio da cultura brasileira?
Ikeda: Falando sobre a música brasileira, encanta-me pela rica sonoridade e sentimentalidade musical. A bossa nova, especialmente, remete ao Rio de Janeiro, é a própria imagem da praia carioca.
Entrevistador: Há alguma diferença cultural ou de estilo de vida que tenha percebido?
Ikeda: O Japão e o Brasil são contrastantes em vários aspectos. Acho que os japoneses são mais metódicos e os brasileiros mais flexíveis, mas em se tratando de leis e regulamentos, considero o Brasil mais rigoroso. Acredito que, sendo o Japão constituído por uma sociedade mais homogênea, as coisas funcionam mesmo sem um regulamento mais minucioso, ao contrário da sociedade brasileira que, por ser mais diversificada, necessita de leis e regulamentos mais específicos.
Entrevistador: Como é recebida no Brasil a cultura japonesa?
Ikeda: No Japão, um país insular localizado no extremo oriente, floresceu uma cultura singular, tendo como base a cultura japonesa primitiva transmitida desde a era Jomon, e que ao longo do tempo foi incorporando elementos do budismo, confucionismo, taoísmo, como também da civilização ocidental. Os imigrantes japoneses introduziram no Brasil a cultura japonesa, e a comunidade nikkei tem dedicado esforços na sua preservação, bem como divulgação. Os matsuris (festivais) promovidos pela comunidade nikkei em diversas localidades são bastante populares. A razão dessa apreciação deve ser o encanto próprio da cultura japonesa, mas pode expressar ao mesmo tempo, a aceitação da diversidade cultural pela sociedade brasileira.
Entrevistador: Quais são suas impressões sobre a cultura japonesa sob um novo olhar?
Ikeda: Expressa delicadeza e refinamento, bem como alto grau de perfeição. Percebo também que há uma influência do Taoísmo, que é a busca do ideal, o caminho visando a elevação espiritual, através do domínio das habilidades técnicas.
Entrevistador: Qual é sua relação com os encantos da Cerimônia do Chá?
Ikeda: Quando prestava serviços nos EUA, tive a oportunidade de visitar a casa de uma Mestra da Cerimônia do Chá. A mestra me conduziu até a sala de chá (chashitsu) e fiquei a aguardar a realização da cerimônia do chá. Na época, encontrava-me bastante ocupado e o pensamento bastante acelerado, mas enquanto aguardava na sala, a mente foi se acalmando pouco a pouco. Senti que o tempo dentro da sala fluía num compasso diferente. Estar em um chashitu é estar num mundo à parte, e acredito que esse seja o encanto da Cerimônia do Chá.
Muito obrigado.
Entrevista: Junho de 2015
Nota da redação
Julho de 2015