Entrevista com Angela Tamiko Hirata, presidente da Japan House
Entrevistador: Que circunstâncias levaram a aceitar trabalhar na Japan House?
Quando o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão me convidou para liderar um novo projeto, a Japan House, que tinha o objetivo de transmitir a cultura, design, tecnologia e negócios do Japão contemporâneo, percebi como seria valioso apresentar a cultura japonesa ao povo brasileiro. O Japão é a terra natal de meus pais e eu nasci no Brasil, cresci nessa conexão. E a ideia de uma iniciativa que estreitasse essa relação me pareceu maravilhosa.
Entrevistador: Desde que iniciou seu trabalho na Japan House, o que sente sobre o Japão?
Os japoneses se relacionam com o meio ambiente com muito respeito de modo que conseguem superar os piores desastres naturais. Sinto que não há outro país como o Japão, onde exista tamanha sinergia entre a vida cotidiana e as quatro estações do ano. Viajei a trabalho a mais de oitenta países, e percebi que apenas o Japão valoriza de forma única a natureza e as estações. A cerimônia do chá e o ikebana são exemplos de como isso aparece na cultura de forma profunda e singela.
Entrevistador: Qual é o conceito da Japan House?
O conceito da Japan House é transmitir a sociedade brasileira o Japão contemporâneo através de “objeto”, “pessoa”, “história”.
“Objeto”, porque se pode conhecer o Japão através da percepção visual e tátil dos objetos. “Pessoa”, porque são pessoas que estão por traz dessas criações e “História” porque é através dela que se conhece uma cultura com profundidade e de maneira complexa.
Entrevistador: Qual é o objetivo?
O objetivo da Japan House é apresentar à população de São Paulo e também ao povo brasileiro o Japão contemporâneo. Eventualmente, gostaria de difundir o conceito da Japan House para toda América do Sul, acredito que seja a nossa missão.
Existem muitas técnicas de artesãos do Japão que estão se perdendo, gostaria de trazer esse conhecimento e revitalizá-lo com os recursos naturais do Brasil. Também estamos trabalhando para trazer empresas japonesas globais como a Muji e a Beams.
Entrevistador: No aspecto econômico, como será conduzido o sistema de gestão da Japan House no futuro?
Está previsto tornar a Japan House uma empresa sustentável economicamente.
Entrevistador: Quais são os destaques da Casa, por exemplo, o que terá lá?
O projeto ficou a cargo do arquiteto japonês reconhecido mundialmente, Kengo Kuma. Para a fachada da Japan House, na Avenida Paulista, foram trazidas seis toneladas de hinoki, cipreste tradicional muito apreciado pelos japoneses.
A Nakajima Kômuten, empresa especializada em carpintaria tradicional de templos (miyadaiku), montou e desmontou no Japão toda a estrutura para transportá-la e montá-la novamente aqui. Cinco artesãos miyadaiku vieram para isto e, para o acabamento final, vieram mais dois mestres do Japão. É uma técnica de encaixe muito precisa.
Kengo Kuma também fez uma releitura dos cobogós brasileiros, blocos vazados de concreto criados na década de 1930 no nordeste, para a fachada. Apesar de sua agenda lotada, Kuma veio diversas vezes ao Brasil acompanhar cada detalhe da obra.
Entrevistador: Quando será a inauguração?
A cerimônia oficial de inauguração, aconteceu dia 30 de abril e contou com a presença do vice primeiro ministro japonês, Taro Aso, além do presidente do Brasil, Michel Temer e do governador e prefeito de São Paulo, Geraldo Alckmin e João Dória. A casa abriu para o público no dia 6 de maio com grande sucesso e lotação máxima da casa.
Entrevistador: Após a inauguração, de que forma poderemos usufruir a Casa?
A programação está por conta do curador Marcello Dantas, responsável pelo pavilhão brasileiro na Expo 2010 Xangai, o Museu da Língua Portuguesa, entre outros. Ele está planejando uma série de exposições que irão abordar arquitetura, design, tecnologia, mobilidade e outros assuntos em que o Japão se destaca. Para promover a troca entre os dois países, também teremos uma agenda repleta de workshops e seminários.
Entrevistador: Que instalações irá ter?
São diversas. Temos um restaurante comandado pelo chef Jun Sakamoto que contará com a consultoria de um famoso chef do Japão, que virá de três a quatro vezes por ano ao Brasil, para elaborar o menu. Também temos lojas que vendem produtos e objetos de artesanato típicos do Japão e produtos alimentícios como o molho de soja (shoyu), caldo (dashi), entre outros; temos que considerar que o Japão tem um tempero único.
Na moda teremos pessoas incríveis de muito sucesso como os estilistas de renome internacional japonesa.
Entrevistador: A senhora poderia nos falar sobre as Havaianas?
Fui Diretora de Comércio Exterior da São Paulo Alpargatas, entre janeiro de 2001 e dezembro de 2005.
Na São Paulo Alpargatas assumi o desafio de desenvolver novos mercados e posicionar a marca internacionalmente. O resultado deste trabalho é que, atualmente, as Havaianas são exportadas para 5 continentes e mais de 80 países, com a marca posicionada no mercado Top e disputando espaço em vitrines de renome internacional.
A sandalia foi criado em 1962 e sua inspiração foram as sandálias japonesas Zori. Aqui foram produzidas com sobras de borracha para serem práticas e baratas. A origem do nome foi o Havaí, que remetia ao Elvis Presley, artista muito popular na época.
Por 30 anos a Havaianas era voltada para o mercado interno, mas em 1997 foi criado o departamento de Comércio Exterior das Alpargatas com o objetivo de aumentar a exportação do produto.
De janeiro de 2001 a dezembro de 2004 fui diretora da deste departamento, e fui a primeira diretora mulher na história da Alpargatas. A estratégia de expansão passou por parcerias com grandes lojas como Harrods e Galeries Lafayette. Outro momento importante foi 2003, quando produzimos modelos sofisticados para distribuir entre os indicados ao Oscar. A repercussão levou ao reconhecimento mundial do produto.
Entrevistador: Qual é sua relação pessoal com a Cerimônia do Chá?
Eu gosto de chá. Ganhei uma tigela esplêndida de minha avó, que nasceu em 1º de janeiro de 1900. É uma recordação especial para mim. Espero em breve poder conhecer mais sobre cerimonia de chá e quem sabe aprender a pratica.
Entrevistador: Qual é a sua filosofia de vida?
Viver é fácil. Contudo, como seres humanos que somos, nos conduzimos em uma direção difícil. Penso que sozinha nada posso fazer, por isso, conto com minha equipe para alcançar o sucesso. Mas não é algo que pense muito porque sucesso é algo que sempre deve ser perseguido e sempre será exigido de nós.
Muito obrigado por nos ter concedido esta entrevista.
Maio de 2017