【Entrevista com Urasenke】Sr. Yataro Amino, contador de história do bairro da Liberdade.
A 20ª entrevista com celebridades brasileiras foi realizada com o Sr. Yataro Amino, Conselheiro da Federação das Associações de Províncias do Japão no Brasil. Atualmente, está ocupando cargos como Presidente Honorário da Associação Cultural e Recreativa Yamanashi Kenjin do Brasil e como Presidente do Conselho da Associação Cultural e Assistencial da Liberdade.
Ouvimos histórias valiosas sobre a Liberdade e sobre o Festival do Japão, que tem uma ligação histórica com a Urasenke do Brasil. Há 65 anos, o Sr. Amino dedicou-se ao desenvolvimento da Liberdade, um dos bairros japoneses mais famosos no mundo. Além disso, participou da primeira edição do Festival do Japão, em 1998, como Presidente da Federação das Associações de Províncias do Japão no Brasil. Esse evento já existe há mais de 20 anos e continua sendo muito amado até hoje.
– Gostaríamos de lhe perguntar sobre as circunstâncias da sua vinda ao Brasil.
Cheguei em outubro de 1958.
Depois de me formar no ensino médio em Yokohama, trabalhei para uma empresa multinacional, na área de comércio exterior, por dois anos. Por causa dessa experiência profissional, tive interesses por países estrangeiros como os Estados Unidos ou o Canadá, mas era difícil viajar para esses países. Nesse aspecto, era relativamente fácil se estabelecer no Brasil, então vim para cá.
Quando cheguei em São Paulo, trabalhei como balconista numa loja de shopping center durante o dia em uma cidade chamada Promissão, no noroeste do estado de São Paulo, e estudei o português no ensino noturno. Um ano depois, mudei-me para São Paulo, onde trabalhei como mercador ambulante (mascate) por três anos. Em 1964, fundei a empresa Amino Shokai, e desenvolvi a fabricação e venda de roupas de cama.
– O senhor é também conhecido como “contador de história da Liberdade”. Conte-nos sobre a história deste bairro da Liberdade.
Embora a escravidão tenha sido abolida em 13 de maio de 1888, a Liberdade naquela época era formada por uma comunidade negra, e a praça era, antigamente, um campo de enforcamento.
Existe uma anedota que ainda é contada. – Em 1821, Chaguinhas, um soldado negro, foi condenado ao enforcamento, mas ocorreu um milagre em que a corda usada para a execução arrebentou duas vezes, e o povo que a tudo assistia, gritou “Liberdade”. – Em 1822, aquele campo foi nomeado a atual Praça da Liberdade para reivindicar o fim da escravidão. – Em 1905, foi iniciado o sistema distrital e, em dezembro, nasceu o distrito (ou bairro) da Liberdade.
A partir da chegada do navio “Kasato-Maru” em Santos, em 1908, iniciou-se o assentamento dos colonos japoneses. Em 1912, os imigrantes japoneses começaram a viver em São Paulo, e em 1913, um consulado foi estabelecido. Uma das razões para a procura na área da Liberdade por parte dos japoneses era de que a maioria dos imóveis tinham porões, e o aluguel dos quartos nos porões era muito barato.
A partir da década de 1910, a Liberdade começou a dar sinais de desenvolvimento como uma comunidade japonesa. – Por exemplo, em 1915, foi fundada a Escola Elementar Taisho. Posteriormente, nesta mesma área, foi construído o atual prédio da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social. – No ano seguinte, foi lançado o Jornal “Nanbei Shinbun”, depois, o Jornal “Nippaku Shinbun”, em 1919 e, mais tarde, o Jornal “Nihon Shinbun”, em 1931. Vários jornais foram lançados para a comunidade japonesa. Além da Escola Elementar Taisho, outras escolas foram construídas para crianças japonesas.
Na década de 1930, a Liberdade continuou se expandindo como uma cidade japonesa. Lojas, pousadas, restaurantes e outros estabelecimentos também surgiram lado a lado. – Em 1938, os japoneses começaram a transmissão de rádio em ondas curtas. – No ano seguinte, em 1939, um hospital do governo japonês foi estabelecido no bairro Santa Cruz.
No entanto, com a eclosão da Guerra do Pacífico (ou a Segunda Guerra Mundial), em 1941, os japoneses da Liberdade passaram por um período difícil. – Em 1942, o Consulado foi fechado e, em 8 de setembro daquele ano, os japoneses foram expulsos à força. Muitos deles foram presos por suspeita de espionagem.
Eventualmente, a guerra terminou, e iniciou-se uma nova fase para os japoneses da Liberdade. Em 1950, o nadador olímpico Hiroyuki Furuhashi veio ao Brasil e dando a coragem e esperança ao povo nipônico no Brasil, quando hasteou a bandeira japonesa.
Em 1953, foi inaugurado um Encontro Social para os japoneses. Em 1954, por ocasião dos 400 anos de fundação da cidade de São Paulo, fizeram carros alegóricos e desfilaram. No mesmo ano, foi construído o Pavilhão Japonês, um edifício em estilo tradicional japonês, no Parque do Ibirapuera.
*Também em 1954, o então Grão-mestre Herdeiro Sen-Sôkô (atual Grão-mestre emérito Sen-Genshitsu) veio para o Brasil com a idade de 29 anos e o Urasenke Brasil foi estabelecido nesta ocasião.
Em 1955, foi fundada a atual Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social (BUNKYO). Naquela época, havia também um departamento de aconselhamento de emprego para imigrantes do pós-guerra, que servia de base para os residentes japoneses em São Paulo.
Na década de 60, a Ponte Osaka foi construída na Rua Galvão Bueno, principal rua da Liberdade. Quando você atravessar a ponte para o sul, o grande portão Torii chama sua atenção. Este grande portão Torii foi construído em 1974, e agora está gravado no coração das pessoas como um símbolo da Liberdade. Além disso, os candeeiros da rua que imitam lanternas, que hoje são chamadas de candeeiros de “Suzuran” (lírios-do-vale), também acrescentam glamour ao bairro como especialidade da Liberdade. As pedras de pavimentação com a crista de três pontas são exclusivas da área da Liberdade. O cenário que lembra o Japão tem sido aceito por muitos como a cidade natal do povo japonês que luta em um país estrangeiro, e como um bairro da comunidade japonesa. Por outro lado, o florescimento de intercâmbio com outros países e organizações também está muito relacionado à prosperidade da Liberdade. Nos últimos anos, é inegável que houve um influxo de lojas e empresas além das japonesas, lideradas por taiwanesas, mas a Liberdade continua ativa como uma cidade asiática no Brasil até hoje.
– Gostaríamos de lhe perguntar sobre o Festival do Japão.
Ocupei o cargo de Presidente da Associação Cultural Recreativa Yamanashi Kenjin do Brasil por 10 anos, a partir de 1990. Naquela ocasião, percebi a dificuldade da alternância de gerações entre “isseis”, que têm uma forte qualidade da cultura japonesa, e as gerações futuras a partir de “nissei”, que têm também os elementos brasileiros.
Pensei que seria possível haver solidariedade entre os japoneses que vivem neste país, então lancei o Festival do Japão. O motivo para o estabelecimento do Festival do Japão foi que a união de cada geração seria fortalecida trabalhando juntos em direção a um único objetivo. Inicialmente, foi chamado de “Festival de Comida Regional e de Artes Cênicas Regionais do Japão”. Além dos pratos típicos de cada Província, também havia canções folclóricas e danças locais. E, a cultura tradicional, como Cerimônia do Chá e Ikebana, foram introduzidas no Festival do Japão, mostrando um aspecto do local de disseminação da cultura.
Assim, o primeiro Festival do Japão foi realizado em 1998. O Centro de Chado Urasenke do Brasil participa desde o primeiro Festival. Além de São Paulo, hoje, os festivais japoneses são também realizados em outros estados, como Paraná, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Brasília e Bahia.
– Por favor, diga-nos a sua opinião sobre os desenvolvimentos futuros para o Festival do Japão.
É inegável que o Festival do Japão está se tornando sempre igual, monótono, por isso acho que cada Associação de Províncias deveria mostrar mais suas próprias características. – Por exemplo, mesmo para a culinária regional de cada província, é difícil fornecer comida tradicional devido a restrições orçamentárias. – Neste sentido, temos o plano de colaborar com a JETRO – Japan External Trade Organization, e de enviar recursos humanos a cada Associação de Províncias do Japão no Brasil, visando descobrir e pesquisar alimentos tradicionais de cada região, para melhorar os pratos típicos. O outro plano é a passagem da cultura para a próxima geração. Acho que aprofundar a conexão entre gerações, que era a filosofia original do Festival do Japão, também é um tema muito importante.
– Por fim, diga-nos o seu lema.
“Aprendendo com o passado” (desenvolver novas idéias com base no estudo do passado) é o meu lema. Está sendo transmitida atualmente uma novela de televisão chamada “Dou Suru Ieyasu” (E agora, Ieyasu ?) que narra sobre a vida de Ieyasu Tokugawa (1543-1616), que gosto muito de assistir porque posso fazer novas descobertas olhando para trás na história.
O Departamento Editorial agradece sinceramente pela excelente palestra!
Data de entrevista: 12 de maio de 2023
Julho de 2023