19. Mono-no-aware – Um sentimento de impermanência…
O que significa “Mono-no-aware“? 「もののあはれ」
Nessa expressão, a palavra “mono 物” não tem o mesmo sentido que adquiriu na linguagem moderna, com conotação fortemente material. No Japão antigo, o invisível, a totalidade das “coisas” da gama espiritual, era o que chamavam de “mono – coisas”. Palavras como “mononoke” (espírito vingativo e raivoso) e “monoomoi” (reminiscências) retêm fortemente tais significados. Em vista disso, entendemos que “mono” em “mono-no-aware” refere-se a todas as coisas relacionadas ao mundo natural e ao mundo humano.
A palavra 「あわれ」”aware” expressa um leque de emoções, como alegria, humor, tristeza, entre outras que sentimos profundamente quando entramos em contato com várias coisas e situações.
“Mono-no-aware” é um dos conceitos importantes, em âmbito literário e estético, na compreensão da literatura dinástica do período Heian (794 a 1185). Ver com os seus próprios olhos, escutar, estar em contato com determinadas situações, sentir emoção profunda e, ao mesmo tempo, melancolia ou a evanescência das coisas.
Motoori Norinaga (1730-1801), um estudioso da literatura clássica japonesa no período Edo, defendeu essa ideia em obras suas como “Shibun Yôryô”, “Genji Monogatari Tama no Ogushi” (O Conto de Genji) e “Kojikiden”.
Não é exagero dizer que “Genji Monogatari”, representação máxima da literatura japonesa, traz como um ponto primordial o conceito de “Mono-no-aware”.
Esta obra é uma longa história escrita por Murasaki Shikibu em 1008, com um total de 54 capítulos. Situada no período Heian, na sociedade aristocrática da época, retrata casos de amor do personagem Hikaru Genji, personagem principal, um nobre de beleza excepcional, diversões graciosas, lutas pelo poder, glória, e, finalmente, sua queda.
Este romance completo consiste em três partes. A primeira parte é desde “Kiritsubo” até “Fuji no Uraba”. A segunda parte é desde “Wakamurasaki” até “Maboroshi”. A terceira parte começa em “Nioinomiya” e termina em “Yume no Ukihashi”. É, enfim, um romance grandioso, conhecido e lido até os dias de hoje.
“O Conto de Genji” influenciou diferentes aspectos da cultura japonesa, incluindo pinturas. Foi traduzido para a língua moderna japonesa por diversos autores famosos, como Yosano Akiko, Tanizaki Junichiro, Enchi Fumiko, Tanabe Seiko, Kakuta Mitsuyo e Hayashi Mariko.
Há também versões em formatos de mangás, fáceis de entender, entre outras modalidades. Minha recomendação é que não deixe de ler “O Conto de Genji”, apreciando-o com profundidade, para entender este conceito: “Mono-no-aware”.
Junho de 2023