13. Fûryû – elegante, refinado…
Quando perguntam “qual seu hobby?”, e se ouve como resposta “fazer haiku” ou “Chanoyu“, o comentário que frequentemente escutamos é: “que gosto refinado!” Nos eventos de contemplação das flores (hanami), ou da lua (tsukimi), e em situações similares aos outros exemplos dados, o povo japonês costuma se sensibilizar com tais padrões e utiliza a palavra fûryû (風流).
Mas se a próxima pergunta fosse: “então, qual é o significado desta palavra?”, íamos perceber que a resposta seria um tanto quanto complexa, como veremos a seguir:
- requinte, elegância, graça, gosto refinado;
- interesse requintado e fora do comum, como poesia, escritura ou pintura;
- vestir-se elegantemente, aplicar requinte, primor nos mínimos detalhes;
- boas maneiras ou estilos deixados pelos predecessores, costumes, tradições.
Como sinônimo, podemos citar a palavra “fuga 風雅”(civilizado, educado), e palavras relacionadas: “gashu 雅趣” (elegante, requintado), “gachi 雅致” (artístico, sofisticado) ou “kanga 閑雅” (esmerado, primoroso).
O vocábulo remonta ao período Muromachi (1336-1573), em que designava uma das artes performativas da época. Era uma dança grupal, onde seus membros bailavam ao som de um acompanhamento musical, esplendidamente vestidos ou fantasiados. A partir do final desse período, até o início do período Edo (1603 – 1868), essa dança fez-se tão popular que, quando falavam de fûryû, referiam-se a ela. Passou a influenciar o teatro Sarugaku, Noh e Kyôgen, e mais tarde o teatro Kabuki e o teatro de marionetes Ningyô Jôruri, entre outros.
Podemos afirmar que este fenômeno foi um dos responsáveis pela amplificação do sentido estético de beleza no Japão, a partir da época medieval.
Não obstante, existe uma outra teoria que afirma que o termo é originário do zen budismo. Há dentro desse contexto, a expressão 「風に揺らぐ」 (kaze ni yuragu) “balançar-se com o vento”, cujo sentido encaixa-se perfeitamente com a palavra 風流 fûryû. Numa explicação concisa, podemos dizer que o ser humano busca anular os cinco sentidos e integrar-se à natureza.
O escritor e ganhador do Prêmio Akutagawa, Gen’yû Sôkyû (1956-), interpreta a palavra fûryû como um vocábulo zen que exprime capacidade interior de se desfrutar algo sossegadamente.
Por outro lado, o escritor Shiba Ryôtarô (1923-1996), e o pesquisador de cultura japonesa Donald Keene (1922-2019), em uma conversação apontaram o oitavo Xogun, Ashikaga Yoshimasa (1436 – 1490), do Período Muromachi, como o representante por excelência de uma pessoa fûryû. Personagem principal da Guerra Ônin (1467-1477), esta foi uma revolta por um problema de sucessão, que colocou a cidade de Kyoto em estado de guerra. Ele aposentou-se cedo. Capacidades políticas à parte, Yoshimasa construiu o elegante Ginkaku-ji (Templo Prateado), e nele um ambiente pioneiro, considerado como o originário das salas de chá. Comparado ao Kinkaku-ji (Templo Dourado), tão luxuoso e magnificente, o Ginkaku-ji representa a essência da sutileza e do refinamento.
Palavras com este termo:
“Bufûryû 無風流”: comum, vulgar, prosaico.
“Fûryû-gasa 風流傘”: uma variedade de guarda-sol decorado, utilizado em festivais. Geralmente são grandes e ricamente adornados, com enormes cabos para portá-los em procissões.
“Fûryû-kuruma 風流車”: carros alegóricos, igualmente bem decorados segundo as ocasiões, para desfiles em dias festivos.
「風流夕涼三美人」”Fûryû-Yusuzumi-Sanbijin” (três mulheres elegantes descansando ao entardecer): quadro de muito sentimentalismo, impressão em xilogravura, do pintor Kikugawa Eizan (1787-1867).
Photo: twinmount |
Setembro de 2021