15. Sabi
O conceito “wabi-sabi” expressa um sentido estético muito peculiar do Japão. É um vocábulo que passa uma imagem de simplicidade, quietude e imperfeição. Na realidade é uma combinação de dois substantivos, “wabi” e “sabi”, cada um com seu próprio significado.
“Sabi”「さび」「寂」 é a forma substantivada do verbo 「寂ぶ」“sabu”. Expressa a capacidade de sentir em profundidade, com interesse, os elementos que estão em estado de dormência, quietos, murchos. O verbo “sabiru”「錆びる」significa criação ou formação de ferrugem na superfície de algum metal. As palavras「寂しい」 (sabishii) solitário, desolado, triste, e 「弱る」 (yowaru) enfraquecer, não abrangiam um conceito positivo, mas já eram utilizadas na literatura clássica “Man’yôshû” da Era Nara.
Os poetas Fujiwara Toshinari e Matsuo Bashô conseguiram expressar o vivenciar da “beleza da solidão”, e a percepção desses vocábulos começam a mudar significativamente a partir de então. Analisando dessa perspectiva:
- Algo cuja antiguidade traz traços singulares, ou que seu sabor antiquado o torna único. Sereno e de bom gosto.
- Portar uma voz comprimida, baixa e grossa, como a voz de um velho e experimentado guerreiro.
良暹法師 Ryōsen-hôshi Sabishisa ni Izuko mo onaji |
Monge Ryōsen Em solidão Tudo é só |
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恵瓊法師 Ekei-hôshi Yaemugura Hito koso miene |
Monge Ekei Tomada pelo mato Ninguém vem me ver |
“SABI” NO POEMA HAICAI DE MATSUO BASHÔ
古池や蛙(かわず)飛び込む水の音
Furu ike ya
kawazu tobi komu
mizu no oto
velho tanque –
uma rã pula
som d’água
閑さや岩にしみ入る蝉の声
Shizukasaya
iwani shimiiru
semi no koe
quietude –
atravessa o rochedo
o canto das cigarras
Visto que foram escritos numa época em que o que estava em voga era a opulência, pode-se dizer que o conceito “wabi-sabi” foi engendrado a partir da poesia.
O discípulo de Bashô, Mukai Kyorai, escreveu em “Kyoraishô” 『去来抄』: さびは句の色なり (Sabi wa ku no iro nari), ou seja, “sabi” é aquilo que dá cor ao poema, o que foi reconhecido positivamente por Bashô como expressão do sentimento do autor de haicais.
KIREI-SABI DE KOBORI ENSHÛ
“Kirei-sabi” é um conceito acerca da beleza do Chadô, elaborado por Kobori Enshû no início do Período Edo.
Comandante militar e mestre do chá, Kobori Enshû se equipara a Sen Rikyû e Furuta Oribe, vivenciando o Chadô dos tempos turbulentos de Toyotomi a Tokugawa. Criou uma nova forma, que combinou elementos do Chadô com a elegante cultura da corte imperial.
Este novo sentido estético de “wabi-sabi”, com um sopro de elegância, foi chamado de “kirei-sabi”, beleza da solidão, elegante rusticidade. Diz-se que Enshû recepcionou aproximadamente 2.000 convidados, em mais de 400 encontros de chá, ao longo de sua vida, muitos dos quais eram senhores feudais, funcionários de diferentes posições, vassalos e cidadãos.
Cerâmica Karatsu, com desenho (Karatsu-e). A figura é desenhada com esmalte ferruginoso, sabi-e (銹絵). Óxido de ferro, tem a cor da ferrugem do ferro, marrom, transmitindo a sensação do tom enferrujado, sensação sabi. |
Flores solitárias no recinto. |
“WABI-SABI” EXPANDINDO-SE PELO MUNDO
Essas duas palavras também são entendidas e usadas na língua inglesa, com o mesmo sentido de “wabi” e “sabi”.
Uma das primeiras pessoas a espalhar esse conceito para o mundo foi o autor japonês Tenshin Okakura, com a obra “The Book of Tea” (O Livro do Chá). Ele apresentou o Chadô e sua relação com a natureza espiritual do povo japonês, bem como com o Zen, o Taoísmo e o Kadô (Ikebana).
A segunda pessoa, é o ceramista inglês Bernard Leach. A partir da obra de Yanagi Soetsu, na versão em inglês “The unknown craftsman: A Japanese insight into beauty” (“O artesão desconhecido: uma perspectiva japonesa da beleza” – tradução livre), interpretará os conceitos de wabi e sabi.
Outras pessoas que contribuíram para a expansão dessas palavras foram: Leonard Koren, escritor que muito bem definiu o conceito de wabi-sabi, o mestre zen D. T. Suzuki, e Steve Jobs, fundador da Apple Inc.
Dessa forma, o peculiar sentido estético japonês, o conceito de “wabi-sabi“, difundiu-se por todo o mundo.
Março de 2022