9. Sakura – Cerejeira Japonesa
Na maior parte do Japão, a época de florescimento pleno da cerejeira é de março a abril. Dependendo da região e latitude, as flores desabrocham em meses distintos, como, por exemplo, em Washington DC, nos Estados Unidos, onde geralmente florescem em maio, e, no Brasil, entre julho e agosto. Entretanto, acho que não há um povo que ame mais a flor de cerejeira (sakura) que os japoneses. Não sei se seria uma característica desse povo, mas me arrisco a afirmar que as pessoas deste país prestam mais atenção às flores dispersando-se que à própria florescência.
O seguinte poema waka do famoso Ariwara-no-Narihira (825-880), publicado no clássico “Kokin Waka Shû” (Coleção de poesias do Período Heian), diz:
世の中に たえて桜の なかりせば
春の心は、 のどけからまし
Yo no naka ni taete sakura no nakariseba
Haru no kokoro wa, nodoke karamashi.
Se no mundo
flores de cerejeira
não houvesse,
Coração primaveril
ah que plácido seria!
O poema sugere que, se não houvesse neste mundo algo como a flor da cerejeira, não haveria a inquietação das pessoas que esperam com ânsia o seu florescimento e se entristecem pela dispersão de suas pétalas, ou seja, não haveriam de preocupar-se com isso, e, portanto, os seus corações estariam tranquilos na primavera.
As pessoas de Kyoto, quando chega a primavera, costumam cumprimentar-se da seguinte forma: “as flores de tal e tal lugar já floresceram”… ou “as flores de tal e tal lugar já se dispersaram”… Este costume perdura por lá há mais de mil anos, referindo-se sempre à flor da cerejeira.
No Período Nara (710– 794), no tempo em que foi publicado o clássico “Man’yôshû”, quando se dizia “flor” entendia-se a flor da ameixeira japonesa. Com o passar dos tempos, referir-se à flor entre os japoneses passou a significar flor de sakura, esta que tanto fala aos seus corações.
Desde fins de março a inícios de abril, em quase todo o Japão noticia-se freneticamente o avanço da frente de florescimento da sakura. Em todos os lugares, tudo está repleto de flores de cerejeira!
Na minha opinião, as flores que podem ser observadas de Chidorigafuchi até o Santuário Yasukuni, em Tokyo, seriam as mais belas e ao mesmo tempo impregnadas de melancolia, posto que são elas as flores do santuário em que são homenageadas as almas dos soldados que morreram pela pátria. Nesta perspectiva histórica, sente-se que transmitem ao mesmo tempo imensa tristeza.
As festas (com bebidas alcoólicas) realizadas debaixo dos pés de sakura floridos nas margens do rio de Ueno, Tokyo, são costumes próprios dos japoneses e dificilmente vistos em outros lugares do mundo. Dizem que os japoneses são um povo de “sakura-sake“, trocadilho derivado do nome de um dos deuses da montanha, chamado Sagami サ神 (deus Sa).
A meu ver, parece ser uma característica especial do povo japonês, o fato de sentir graça na efemeridade das pétalas das flores de sakura, de sentir orgulho do que antes se vestiu de glória, de sentir beleza naquilo que já está desvanecendo-se.
A variedade de cerejeira do Japão mais encontrada no Brasil é a do tipo sakura de Okinawa, mas vê-se também a do tipo Himalaia e a sakura Yukiwari, entre outras.
Por último, cito um haiku do imigrante japonês no Brasil, o Sr. Nishitani Nanpu西谷南風翁, encontrado na sua obra “Sakuramori“『さくらもり』, tão impregnado de nostalgia da sua terra natal.
南米に一会有情のさくらもり
Nanbei ni ichie ujô no sakuramori
O haiku sugere que o autor se sente como sakuramori (pessoa que protege as cerejeiras), nesta parte da América do Sul, e que ele se comove ao ver as cerejeiras floridas, lembrando-se com nostalgia do Japão.
Setembro de 2020