Notícias do Japão
Que rápido passou, já faz um mês desde meu retorno do Brasil. Minha vida em Tokyo já está mais calma, retomei as práticas de chá (okeiko) e sinto-me feliz toda vez que vou. Bem, em meados de novembro, com o inverno se aproximando, voltei à minha cidade natal, Kanazawa, na Província de Ishikawa, e visitei um lugar que tem relação com chá, o qual gostaria de compartilhar com vocês.
KANAZAWA E CHANOYU
No período das guerras civis (Sengoku Jidai), a cerimônia do chá era uma das práticas comuns dos samurai; preparar tranquilamente o chá era um modo de trazer conforto espiritual para sobreviver aos tempos difíceis e possuir um objeto de excelente qualidade foi considerado símbolo de autoridade. O chanoyu também era um espaço para recepcionar convidados.
A atual cidade de Kanazawa, Província de Ishikawa, floresceu como uma área controlada pelo castelo do clã Kaga no período das guerras civis. O fundador do clã, Maeda Toshiie (1538-1599) aprendeu chanoyu como discípulo direto de Sen Rikyû e levou a cultura do chanoyu ao seu clã. A ligação do clã Kaga e a Urasenke iniciou-se quando Sensô Sôshitsu (1622-1697), IV Grão-mestre da Urasenke, prestou serviços nos últimos anos de Toshitsune, III senhor feudal do clã Kaga (1594-1658), quando lhe deram uma mansão nos subúrbios de Kanazawa. Além disso, em 1666, o V senhor feudal, Maeda Tsunanori (1643-1724), sob seus cuidados, convidou Sensô, então funcionário do clã, a oferecer ensinamentos sobre chadô e assim, a Urasenke pôde difundir-se no clã Kaga. Sensô organizou amplamente reuniões de chá de sua preferência e difundiu o chanoyu em uma vasta gama da sociedade, não só entre os samurais, mas também para artesãos e até aos habitantes da cidade; ensinou-lhes a etiqueta do chá.
Atualmente, em Kanazawa e seus arredores, há muitos lugares relacionados com chanoyu, artes e artesanatos como: a residência de Sensô, seu túmulo, diversas salas de chá, cerâmica Ôhi (uma variedade da autêntica cerâmica da família Raku de Kyoto), caldeiras Miyazaki Kanchi (artesão de caldeiras), tecidos de seda pintados à mão para kimono tingidos com a técnica Kaga yûzen, objetos de laca Wajima, porcelana Kutani, entre outros.
Bibliografia:
Kaga Maeda-ke hyakuman koku no chanoyu – Tankôsha – Supervisão de Shimazaki Susumu (2002)
Home Page oficial da cidade de Kanazawa <Cultura Tradicional de Kanazawa/Chadô>
〈http://www4.city.kanazawa.lg.jp/17003/dentou/bunka/sadou/〉
FORNO DE CHÔZAEMON, FUNDADOR DA CERÂMICA OHI
A cerâmica Ohi iniciou-se quando Chôzaemon, o melhor discípulo de Ichinyû, IV Grão-mestre da família Raku de Kyoto, acompanhou, desde Kyoto, Sensô quando foi convidado como instrutor de chá em Kanazawa. Chôzaemon montou seu forno na aldeia Ohi, nos subúrbios orientais de Kanazawa, ao encontrar a melhor argila da região. E sob a orientação de Sensô criou utensílios para chadô como chawan, mizusashi, kôgô, entre outros, tornando-se o fundador da cerâmica Ohi, existente há mais de 330 anos. Chôzaemon preservava a técnica da cerâmica Raku (moldada à mão) sem usar o torno de oleiro; usou o esmalte cor caramelo (ame) dado pela família Raku, e na queima surgiu a cor âmbar com um brilho diferente ao preto e vermelho da cerâmica Raku, estabelecendo, assim, o estilo único da cerâmica Ohi. Nas obras do fundador Chôzaemon podem ser vistas as características favoritas de Sensô como o desenho de redemoinho e ondas de água.
O Museu Ohi encontra-se na cidade de Kanazawa e nele estão expostos os trabalhos das sucessivas gerações de Ohi Chôzaemon, assim como de mestres de chá, mestres de arranjos de flores, do Sumo Sacerdote do templo budista Tôdaiji, entre outras personalidades culturais que deixaram suas obras e materiais. Além disso, nas instalações para cerimônia do chá é possível degustar o chá verde em pó – matcha – na tigela de sucessivas gerações de cerâmica Ohi, acompanhado de doce chamado “kichi hashi” (吉はし), um doce fresco de alta qualidade (mochi colorido, recheado com doce de feijão e modelado em diferentes designs de acordo com as estações do ano), que em geral, não é vendido nas confeitarias, por isso é conhecido também com o nome de “doce fantasma”.
Site do Museu Ohi 〈www.ohimuseum.com〉
Dezembro de 2015
Suzuki Kahoru
Fevereiro de 2016