- A Paz Através de Uma Tigela de Chá -

Notícias do Japão: Conhecendo a exposição “Zen: da Mente à Forma”

Pessoal, como vocês estão? Já se passou um ano desde que retornei ao Japão. Como de costume, tenho levado um dia a dia atarefado, mas, como parte das Notícias do Japão, desta vez falarei sobre uma exposição sobre Zen ocorrida em Kyoto e Tokyo.

Quando vivia no exterior, ouvi muitas perguntas sobre a cultura japonesa. Dentre elas, as mais difíceis era sobre Zen. O Zen é muito conhecido em outros países, e não são poucos os estrangeiros que, apesar de não conhecerem a Cerimônia do Chá, possuem certo nível de conhecimento sobre Zen. Não apenas isso, mas, na Amazon americana, ao se procurar o termo “Zen”, depara-se com cerca de 36000 livros sobre o assunto, de modo que pode-se notar que há um grande interesse no tema.

Retirei as imagens a seguir do catálogo japonês “Zen – kokoro wo katachi ni” (The Art of Zen from Mind to Form) [“A Arte do Zen, da Mente à Forma”, em tradução livre], uma vez que era proibido fotografar na exposição.

 

1. Introdução

Bodidarma (Daruma), por Hakuin Ekaku
Período Edo, século XVIII), Templo Manjû-ji em Oita (da pág. 180)

O monge budista Bodidarma é considerado o patriarca do Zen Budismo. Os ensinamentos Zen se iniciam com Sidarta Gautama (Buda).  O Zen é uma das seitas do budismo que se desenvolve na China e no Japão. O Bodidarma transmite os ensinamentos na Índia no início do século VI ao monge chinês Huike (Eka, em japonês), alcançando o monge chinês Huineng (Enô, em japonês).

O Zen Budismo transmitido da Índia à China pelo Bodidarma se expande durante a dinastia Tang graças ao mestre Linji Yixuan (Rinzai Gigen, em japonês) e chega ao Japão no período Kamakura.  A prática recebeu o apoio não só do imperador e da corte, mas também da classe guerreira, causando grande influência na sociedade e cultura japonesas. No início do período Edo, o Zen se expande a partir de Hakuin Ekaku e sumos sacerdotes e se populariza, mostrando-se atualmente um importante apoio espiritual para um grande número de pessoas.

 

2. Sobre a exposição

A exposição “Zen: da Mente à Forma”, comemora o 1150º aniversário de falecimento do mestre Linji Yixuan e o 250º aniversário de falecimento do mestre Hakuin. Contendo cerca de 300 itens preciosos provenientes de templos principais, suas filiais e subtemplos, a exposição introduziu o Zen através de retratos e escritos de sumos sacerdotes, estátuas budistas, pinturas e artesanatos, 24 itens do Tesouro Nacional e 134 itens das Propriedades Culturais Importantes do Japão.

No ano passado, a exposição passou pelo Museu Nacional de Kyoto na primavera e pelo Museu Nacional de Tokyo no outono. Visitei os dois lugares e percebi que os itens em exibição retratando a história do Zen eram diferentes, mas a estrutura da exposição era a mesma. Além disso, a mostra contava com eventos, muitos deles lotados, como palestra e debate sobre o tema “Sesshu versus Hakuin: Pinturas do Bodidarma” e um concurso de flauta shakuhachi chamado “A reverberação do instrumento de sopro no Zen”, através dos quais um grande número de pessoas (com reserva prévia) pôde aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto.

Paragaio

Do ponto de vista da Cerimônia do Chá, o evento em Kyoto, com o Chá de templos Zen budistas, teve como foco  itens chineses (karamono), enquanto que no evento em Tokyo foram mostrados utensílios de chá da classe guerreira, que receberam influência do Zen, de época posterior.

 

A maioria das tigelas Karamono Tenmoku vieram da China entre os períodos Kamakura e Muromachi, sendo utilizadas em templos Zen budistas em cerimônias de ofertório de chá no ritual Yotsugashira Sarei. Mais adiante, a tigela Taihi Tenmoku (ver foto) foi transmitida à casa Kaga Maeda depois de pertencer ao chajin Kanamori Sôwa no início do período Edo.

Quando se pensa no período de transição da Cerimônia do Chá depois da chegada dos utensílios chineses, um dos personagens que vem à mente é Oda Uraku.  O irmão menor de Oda Nobunaga, Uraku, construiu a sala de chá Joan, que atualmente é considerada um Tesouro Nacional, e criou a escola de Chá Uraku (Uraku-ryû). Acredita-se que a tigela de porcelana céladon verde-acinzentada em formato de flor, de nome “Kasugai” tenha sido posse de Uraku.

 

A princípio, os potes de cerâmica de chá forte (chaire) eram, recipientes para fins diversos colocando neles óleo ou remédios, e acredita-se que os japoneses deram outra utilidade. 

Dentre os itens exibidos na mostra, havia um dos três principais potes no formato de “ombro saliente” de nome “Nitta” – Katatsuki  “Nitta”.  É um ômeibutsu – o mais excelente e famoso objeto – que foi propriedade de Murata Shukô, Oda Nobunaga, Toyotomi Hideyoshi e Tokugawa Ieyasu. Também estava em exposição o pote de chá em formato de maçã de nome “Tamagaki”, – Bunrin chaireTamagaki”, que acredita-se tenha pertencido a Uraku. É um pouco difícil de ver somente com esta foto, mas o “Tamagaki” tem um tamanho diminuto. Além desses, havia um pequeno recipiente de chá em formato de jarra arredondada (komaru tsubo). Devido ao fato de Yamanoue Sôji, discípulo de Rikyû, ter escrito em suas anotações (Yamanoue Sôji-ki) que “jarros de chá pequenos têm uma boa forma”, passando o tempo surgiu uma corrente de adeptos de chaire relativamente pequenos.

 

唐物肩衝茶入 銘「新田肩衝」
Karamono Katatsuki Chaire
Pote de chá em formato de ombros salientes
Nome “Nitta Katatsuki
Dinastia Song do Sul, China, séculos XII-XIII
Museu Tokugawa, Ibaraki (da pág. 251)
唐物文琳茶入 銘「玉垣文琳」
Karamono Bunrin Chaire
Pote de chá em formato de maçã
Nome “Tamagaki Bunrin”
Dinastia Song do Sul, China, séculos XII-XIII
Museu Memorial de Toyama, Saitama (da pág. 253)

唐物小丸壺茶入  Karamono Komaru Tsubo Chaire
Pote de chá pequeno em formato de jarra
Dinastia Song do Sul, China, século XIII
Templo Jisho-ji, Kyoto (da pág. 250)

Tanto “Nitta” quanto “Tamagaki” foram destruídos por incêndios no Cerco de Osaka, mas, inacreditavelmente, os fragmentos foram restaurados com laca.

 

3. Conclusão

Nesta exposição, tive a oportunidade de aprender sobre Zen, mas ainda há várias coisas que preciso entender sobre o assunto. De certo, não é algo que possa ser compreendido por completo mesmo vendo essa exposição. Dado que tanto o Zen como a Cerimônia do Chá levam tempo para se aprender, acredito que seja preciso continuar estudando-os na medida do possível.

 

Matsushita Hatsue

 

 

Fonte: Site da exposição “Zen – kokoro wo katachi ni” (The Art of Zen from Mind to Form) [“A Arte do Zen, da Mente à Forma”] http://zen.exhn.jp
http://zen.exhn.jp/en/exhibition/
(Da edição)

Maio de 2017