O som do sino do templo zen
Naomi Matsubara (Sômi)
– Gon, gon…
Toda manhã, às 6h, ouço o som do sino de um templo budista que fica perto daqui.
É o sino de um templo famoso em uma área residencial de Tóquio.
Geralmente eu acordo com esse som.
Uma criança ocidental dizia: “O som dos sinos dos templos é grave e estranho”.
Certamente, o som de um sino grande e de estrutura mais grossa é tão grave que parece brotar do solo. Bem diferente do sino das igrejas que ficam em lugares altos.
No entanto, para uma pessoa como eu, nascida e criada no Japão, quando ouço o som grave de um sino, me sinto mais calma.
Devido ao trabalho do meu marido, voltei ao Japão do Rio no final de março de 2020.
Durante dois anos no Rio, realizei eventos no Centro Cultural Correios Rio de Janeiro, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, no Rio Matsuri, no Festival Cultural de Petrópolis, em shoppings e em muitos outros lugares.
No Festival do Japão em Minas, tive a oportunidade de colaborar com professores e membros de Urasenke de São Paulo e aprendi muito, foi inesquecível.
Agora no Japão, estou lendo uns livros sobre budismo, pois moro perto de um templo budista.
Quando ensinava a cerimônia do chá no Rio, eu explicava o significado das frases zen “buji kore kinin“
「無事之貴人」e “honrai mu ichimotsu“「本来無一物」escritas nos pergaminhos de parede.
Porém, sempre achava que eu não deveria ensinar para os alunos, sem compreender os significados corretos.
O zen é um treinamento, ou seja, é preciso percorrer uma longa estrada até entender de corpo e alma seu verdadeiro significado. Não é algo que se possa aprender somente lendo livros.
Porém, com o problema do coronavírus, e em quarentena, felizmente, tenho tido tempo suficiente para ler livros e com isso, me aproximar, nem que seja um pouco, do espírito zen.
Às 6h da tarde, novamente, volta a ecoar o badalar do sino do templo.
– Gon, gon…
Mesmo que seja por um momento, é uma ótima oportunidade para relembrar como foi o dia de hoje ou como eu fiz o meu dia de hoje.
Mesmo em plena epidemia de corona, gostaria de fazer cada dia da minha vida, um dia único e nunca deixar de me sentir feliz por ter conhecido a cerimônia do chá.
(Ex-professora de Cerimônia do Chá de Urasenke no ICBJ em Rio de Janeiro)