O Paraíso também em quarentena.
Laura Badala
Eu moro em Rosário, Argentina, no coração de uma cidade dinâmica de um milhão de habitantes. Como o resto do mundo, a pandemia nos forçou a ficar lá dentro. No nível pessoal, a situação é sentida e, juntamente com a chegada do inverno, é um convite à interioridade.
Há três anos, convertemos o terraço de nossa casa em um jardim de inspiração japonesa. Nossa idéia era recuperar a prática de monges budistas medievais que criaram esses espaços no meio da cidade velha e empoeirada de Kyoto, a fim de se reconectar com sua própria natureza.
Nesse jardim coexistem plantas e pássaros, rochas e insetos, uma pequena lagoa com água serve como fonte de bebida para os gatinhos do bairro que andam pelos telhados. Como o Chadô, que recria um mundo através de sabores, sons; o jogo de luz e sombra no pequeno espaço do chashitsu, o jardim tornou-se um verdadeiro microcosmo, um mundo separado, completamente diferente do âmbito que rodeia.
Quando nos sentamos no tatame e o anfitrião prepara o chá para nós, deliciamo-nos com seus movimentos graciosos e com o sabor do matcha, nesse momento o tempo se detém. Da mesma forma, quando nos sentamos para contemplar o jardim, para observar o voo de um inseto ou o movimento das folhas do bambu quando a brisa sopra, um parênteses se abre no tempo que permite uma relação mais íntima com tudo em volta de nós.
Dia após dia, podemos fazer algo tão trivial e diário como tomar chá, um encontro cheio de beleza e, de um lugar desolado, um vibrante jardim da vida. Podemos fazer o encontro com o outro, com a natureza e com tudo o que nos rodeia uma experiência que nos aproxima da nossa humanidade, dia após dia, podemos viver no paraíso.
Reside em Argentina