Shôgo Chaji de 16 de agosto
No dia 16 de agosto, foi realizado o Shôgo Chaji (Cerimônia do Chá Formal do meio-dia) do teishu Sr. Susaki, Sôshô.
O foco máximo desta vez foi o segundo convidado Matsudaira, Yoshinobu de onze anos, um maravilhoso convidado que se manteve corretamente sentado na posição seiza durante quatro horas. Além disso, o anfitrião presenteou aos convidados com um chashaku feito por ele mesmo, dentro de uma caixa acompanhado com um poema waka.
O conjunto de utensílios estão registrados no Kaiki. Foi uma boa combinação de utensílios, o recipiente para cinzas de cerâmica Talavera do México, onde esteve em seu posto anterior e a cerâmica do Brasil. Foi um ótimo chaji, onde deu para ver os traços de seu esforço.
IMPRESSÕES DA CONVIDADA PRINCIPAL – SHÔKYAKU – Shizuko Matsudaira
Gostaria de agradecer a todos pela oportunidade de meu filho e eu podermos vivenciar e aprender sobre o Chaji.
Quando Sôen sensei falou pela primeira vez a respeito do Chaji, pensei que era mais adequado para outras pessoas e que eu não poderia ser shôkyaku, a convidada de honra.
No início eu estava hesitante, mas muito grata pela oportunidade.
No dia fiquei muito nervosa, mas graças à orientação atenciosa de Sôichi sensei e à liderança e consideração do anfitrião (teishu), o Sr. Susaki Sôshô, eu consegui ter bom êxito.
Fomos tratados, durante todo o tempo, com muita hospitalidade pelo teishu. Senti-me como se estivesse viajando pelo mundo, na sala de chá, apreciando tantos utensílios não feitos no Japão, mas de países estrangeiros e de São Paulo, em uma integração de tradições. Os utensílios eram valiosos e tinham vínculo especial com o anfitrião, o Sr. Susaki, permitindo vivenciar o Chaji como somente ele poderia fazê-lo. Também pude admirar a colher de bambu (chashaku) e o vaso de flor (hanaire) feitos pelo próprio teishu, o que me fez sentir profundamente a delicadeza e o cuidado do mesmo para com o Caminho do Chá.
Estamos muito gratos pela oportunidade única de participar do Chaji e, sobretudo, pelos preparativos realizados pelo anfitrião (teishu), o Sr. Suzaki, e por sua assistente (hantô), a Sra. Mizuho, que foram imensuráveis.
Gostaria de manifestar gratidão a Sôichi sensei, Sôkei sensei e Sôen sensei, por proporcionar-me a oportunidade de praticar e treinar neste local.
Por outro lado, foi um grande incentivo para mim, pois ainda sou muito inexperiente. Um livro menciona que a chave para o Chaji é a comunicação entre o teishu e o shôkyaku, mas eu ainda estou longe disso, por isso decidi como novo objetivo aprender o que se deve estabelecer pela consideração e o timing entre as pessoas que integram o Chaji.
Finalmente, gostaria de reiterar que este intercâmbio é um processo importante não apenas no Chadô, mas também no trabalho e na vida.
Obrigada pelo apoio contínuo! Muito obrigada!
IMPRESSÕES DO SEGUNDO CONVIDADO– JIKYAKU – Yoshinobu Matsudaira
Nesta oportunidade, gostaria de agradecer muito por preparar esta preciosa ocasião.
Expresso minha gratidão ao Sr. Susaki e a sua assistente pela preparação e trabalho árduo do chaji.
A refeição kaiseki, o chá forte koicha e o chá leve usucha, extremamente deliciosos.
Ademais, gostaria de agradecer a Sôen Sensei, Sôichi Sensei e Sôkei Sensei.
Também sou grato pelo chashaku (colher de chá) feito pelo teishu.
Foi uma experiência preciosa para mim e me encorajou a praticar a cerimônia do chá daqui em diante.
Obrigado por seu apoio contínuo.
IMPRESSÕES DA ÚLTIMA CONVIDADA – TSUME – Kaori Hara
Participei de uma autêntica Cerimônia de Chá Formal (chaji) pela primeira vez. Encontrava-me ansiosa logo no início, porém, fui tranquilizada pela atenciosa consideração do anfitrião Susaki Sôshô, e passei um momento repleto de paz e harmonia durante todo o evento.
Os pratos e doces eram todos deliciosos, e senti, que foram um a um cuidadosamente preparados. Os utensílios usados no chaji foram selecionados e adquiridos em diversos países do mundo, muito interessantes e até mesmo impressionantes. Além disso, foram usadas diversas peças de bambu criadas pelo próprio anfitrião, cada peça espelhando uma comovente habilidade e sentimento de delicadeza do autor.
O fato de ter conseguido apreciar ao máximo o chaji, esquecendo o passar do tempo, foi devido ao detalhado planejamento e dedicação de cada uma das pessoas envolvidas no evento.
Foi possível trabalhar com segurança como a última convidada (tsume) do anfitrião no dia do evento, graças à valiosa orientação do mestre Sôichi.
Muito Obrigada!
IMPRESSÕES DA ASSISTENTE – HANTÔ – Mizuho Nakane
Dias antes da cerimônia de chá formal (chaji), tive a oportunidade de apreciar algumas das peças que seriam utilizadas no encontro, como tigelas (chawan) especiais do México, o reservatório para água fresca (mizusashi), o recipiente pequeno de madeira laqueada (hiranatsume) para o chá em pó, os porta incensos de cerâmica, etc.
Dentre todas as peças, o hiranatsume laqueado, sem desenhos ou pinturas em seu exterior foi o objeto que mais tocou o meu coração. Quando removo a tampa para observar o seu interior, tenho uma rica surpresa. Observo desenhos com vários símbolos do takarazukushi (coleção de motivos auspiciosos), símbolos de boa fortuna, prosperidade, sabedoria, realização dos desejos e boa sorte decoram o fundo da tampa (mitsuke), a borda exterior (tachiagari) e também a beirada interior do natsume.
Imaginei como os convidados reagiriam no momento da apreciação dos objetos (haiken). Participando deste evento como auxiliar do anfitrião (hantô), não teria a chance de fazer o haiken das peças, então este momento foi bastante emocionante para mim. Observando os desenhos, senti que a boa sorte estaria conosco no dia do chaji.
Fiquei com a responsabilidade de providenciar as flores para enfeitar o tokonoma. A sugestão foi botões de camélia (tsubaki). O chaji aconteceria na segunda semana de agosto, será que encontraria estas flores para o evento? Por acaso, quando visitei meu pai, em seu sítio, encontrei botões de camélia em seu jardim, colhi e guardei sob refrigeração por uma semana para atrasar um pouco a floração. No dia, os botões de camélia ainda fechados combinavam bem dentro do vaso em forma de barco (fune-hanaire) de bambu confeccionada pelo anfitrião.
A minha preocupação inicial de como auxiliaria o anfitrião dos bastidores foi aos poucos se dissipando com o auxílio dos mestres e a tranquilidade do anfitrião. Fiquei tranquila a maior parte do tempo e em alguns momentos com o coração acelerado pois o ritmo dos acontecimentos precisava estar em harmonia com o fluir da cerimônia.
Os momentos que mais me tocaram foram quando pausamos um pouco e fizemos a refeição juntos, ver e sentir a alegria do anfitrião quando algo acontecia conforme o esperado, quando nos despedimos dos convidados e vi que mãe e filho desfrutaram juntos este dia e no fim quando pausamos para um chá e dialogamos.
Este dia tão especial foi possível pois Sôkei sensei auxiliou nos preparativos, Sôen sensei, dos bastidores, certificava que cada etapa ocorresse no seu tempo, Sôiti sensei acompanhou todas as etapas e o anfitrião do dia Susaki Sôshô apresentava-se muito alegre, generoso e tranquilo com o verdadeiro espirito de oferecer o melhor aos seus convidados.
Depois desta experiência, fico na expectativa pela próxima oportunidade e enquanto isso não acontece, vou treinando e aperfeiçoando os meus conhecimentos.
Gostaria de deixar os meus agradecimentos a cada um que fizeram parte deste encontro único e inesquecível.
IMPRESSÕES DO ANFITRIÃO – TEISHU – Susaki, Sôshô
RECORDAÇÃO DO CHAJI
Foi por volta de abril que a professora Sôen me convidou para a prática do chaji, como anfitrião, o que aceitei de bom grado. De início, fiquei despreocupado, mas, em junho, quando o cronograma do chaji foi definido para meados de agosto, pensei sobre o assunto e o tema. Os dias iam passando e, assim, fui organizando os poucos utensílios que tenho, tentando combiná-los. Essa é uma preocupação e também prazer único, para quem exerce o papel de anfitrião.
Nesse ínterim, ficou decidido um após outro, todos os participantes, tanto o convidado principal (shôkyaku), como os demais convidados (renkyaku), e o assistente (hantô).
O plano foi se tornando cada vez mais concreto, para preparar e servir uma tigela de chá forte a cada pessoa (kakufukudate koicha), e, à assistente que gosta de flores, mostrei o vaso que usaria.
Há bastante tempo que eu não participava de um chaji, por isso pensei que deveria fazer uma revisão completa; então anotei os procedimentos do chaji há cerca de um mês. Foi muito agradável ter uma reunião de preparação com a hantô e a tsume. Com as minhas anotações em mão, confirmei com elas os movimentos e procedimentos de ambas no jardim do chá (roji) e na sala de chá.
Desta vez, tive que enfrentar alguns desafios. Primeiro, escrever à mão o Convite e o Registro de Reunião de Chá (chakaiki). Normalmente, não costumo usar pincéis e tinta, além de que minha caligrafia é ruim, algo atestado tanto pelos outros como por mim mesmo. Assim, queria imprimir o texto e apenas assinar, mas isso seria descortês para com os convidados, e não obtive permissão de Sôen sensei para tal coisa. Consegui escrever, consultando constantemente o dicionário de caracteres de estilo cursivo, o que é bastante constrangedor, pois para mim já se passaram seis anos daquele ditado que diz: “começar a aprender aos sessenta” (rokujû tenarai).
Logo, escolhi o braseiro (furo) e o formato da cinza esculpida dentro do braseiro (haigata). Pedi a Sôichi sensei emprestado o braseiro tokiwa-buro. Como eu até então só havia usado o braseiro de argila (doburo) comum, foi minha primeira vez para o ato de purificar com a pena esse tipo de furo durante uma cerimônia, e também a primeira experiência em fazer as cinzas no estilo kakiage no marubai (haigata redondo, com número ímpar de linhas verticais uniformemente espaçadas e desenhadas em todo o campo de cinza). Em particular, o haigata eu não conseguia fazê-lo como esperado, pois ao pressionar várias vezes rescindia e tinha que repetir o trabalho destruído, e, só no dia anterior ao chaji, Sôen sensei finalmente disse-me: “está bom”.
Realcei os utensílios principalmente entre aqueles obtidos no México, em meu posto anterior, e os do Brasil. As tigelas dos ceramistas Yuuki Nakatani e Hideko Honma, cada uma delas, foram feitas conversando com as próprias pessoas. Que privilégio, quando se pensa a respeito! Não é essa uma dádiva, para quem pratica o chá? O mizusashi de Mitsue Yuba é uma peça menor, com pintura única, que eu definitivamente queria usá-lo desta vez, e quando a shôkyaku pediu para apreciá-lo – “mizusashi no haiken” -, pensei ser algo dispensável, mas dei-me conta de que ela tinha alcançado meu sentimento de anfitrião.
Eu gosto de fazer chashaku, não sou muito bom nisso, todavia me esforcei em confeccioná-los. Usei um bambu manchado, para associá-los ao tema da primavera e sugerir uma paisagem de sakura com pétalas dispersas, procurando palavras associadas a sakura em antigos poemas waka, no intuito de lhes dar nomes poéticos (mei 銘). Ofereci-os aos convidados, como lembrança do chaji, apesar de achar que ficarão melhores em serem usados em treinos.
O kakufukudate koicha (preparar e servir aos convidados o chá forte em tigelas separadas) foi também minha primeira vez. Quem sabe, jamais teria experimentado este temae, se não fosse a pandemia do coronavírus. Deve-se colocar a mesma quantidade de água quente em tigelas de forma e tamanho ligeiramente diferentes, do jikyaku e do tsume, ao mesmo tempo, até acabar a água quente do hishaku, sem devolvê-la ao furo, e, além disso, o koicha dos três chawan, incluindo o do shôkyaku, é misturado com a mesma intensidade. Parece que serão necessários mais 10 anos, até que eu atinja essa habilidade.
Com certeza, havia muitos pontos a refletir. Desta vez, tinha preparado o recipiente para brasa (hiire), dos ceramistas Akinori Nakatani e Gustavo Perez, do México. Tinha muito medo de que a brasa se apagasse, e um pouco antes da chegada dos convidados coloquei-a para fazer a cinza, o que não saiu bem por eu estar ansioso pelo sinal de chegada dos convidados. Consegui fazer a tempo, com a ajuda de Sôen sensei, mas, ao mesmo tempo que comecei, tive um problema, e depois disso encontrei muita dificuldade de me acalmar.
No kaiseki, o andamento do saquê e da comida ia bem, e a conversa com os convidados fluía. Mas isso foi um engano… Talvez por pensar “estou me saindo melhor do que esperava”, não fui cuidadoso, uma vez que devia orientá-los a ir à sala de quatro tatames e meio, para a primeira cerimônia do carvão (shozumi), e falei isso antes de recolher a bandeja da refeição (oshiki). Pensei que o kaiseki tivesse acabado, mas só notei o erro quando Sôichi sensei me chamou. Convenci-me de que o fracasso veio exatamente de achar que já estava tudo sob controle.
Há muito mais, mas vou parar por aqui, pois não é de bom tom que acompanhem uma história de falta de êxito.
Depois que tudo terminou e os convidados foram embora, a hantô me preparou um usucha. Na correria de até então, parecia inacreditável fazer essa pausa. Um descanso pleno de felicidade para o teishu. Se fosse possível, queria tomar banho, tomar uma cerveja gelada, e ir para a cama, mas não era o caso. Com a ajuda da assistente limpei o mizuya, guardei os utensílios e, então, fui para casa exausto. Antes de ir para a cama, apliquei remédio nas dores musculares, que começaram cedo, e descansei bem, sem sonhar.
Tive várias lembranças deste chaji. Entre elas, fiquei feliz por ter uma pessoa de 12 anos de idade como segundo convidado (jikyaku). Comecei no chá só aos 50 anos, por isso tenho inveja e expectativa por ele ter entrado nesse caminho ainda tão jovem. Tenho esperança de que um dia eu possa participar do seu chaji, como seu convidado principal – shôkyaku.
Novembro de 2020